Dificuldades de Aprendizagem


A definição que parece ser a mais aceite internacionalmente, é a que figura na Individuals with Disabilities Education Act (Lei federal dos EUA), que diz o seguinte:

 

“Dificuldades de aprendizagem específica significa uma perturbação num ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos na compreensão ou utilização da linguagem falada ou escrita, que pode manifestar-se por uma aptidão imperfeita de escutar, pensar, ler, escrever, soletrar, ou fazer cálculos matemáticos. O termo inclui condições como problemas perceptivos, lesão cerebral, disfunção cerebral mínima, dislexia e afasia de desenvolvimento. O termo não engloba as crianças que têm problemas de aprendizagem resultantes principalmente de deficiências visuais, auditivas ou motoras, de deficiência mental, de perturbação emocional ou de desvantagens ambientais, culturais ou económicas."

 

Assim, uma criança pode ser identificada como inapta para a aprendizagem “típica” se não alcançar resultados proporcionais aos seus níveis de idade e capacidades numa ou mais de sete áreas específicas quando lhe são proporcionadas experiências de aprendizagem adequadas a esses mesmos níveis e se apresentar uma discrepância notável entre o que teoricamente é capaz de fazer e o seu rendimento real numa ou mais das seguintes áreas: Expressão oral; Compreensão auditiva; Expressão escrita; Capacidade básica de leitura; Compreensão da leitura; Cálculos matemáticos; Raciocínio matemático. Finalmente, que estes défices não sejam devidos propriamente ao atraso mental, razões afectivas ou ao ambiente socioeconómico degradado, embora por vezes os resultados possam ser semelhantes.

 

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A identificação das DA deve ser feita o mais precocemente possível, contribuindo para este facto uma observação cuidada dos comportamentos da criança. Assim, os profissionais (especialmente os educadores e professores) e os pais devem estar atentos a um conjunto de sinais, que a criança exiba, contínua e frequentemente, uma vez que não existem indicadores isolados para a identificação das DA.

 

          Segundo Cruz (2009) e o Centro Nacional Americano para as Dificuldades de Aprendizagem (1997), existe um conjunto de sinais que podem ser indicadores de DA. Assim, o indivíduo tem problemas ao nível da:

  • Organização: Dificuldades em conhecer as horas, os dias da semana, os meses e o ano, má gestão do tempo, dificuldade em executar planos, tomar decisões e estabelecer prioridades

  • Coordenação motora: Dificuldades na manipulação de objectos pequenos, fraco desenvolvimento de aptidões de independência pessoal, dificuldades no recortar, desenhar, escrever, subir e correr

  • Linguagem falada ou escrita: Aquisição da fala tardia, dificuldade em articular, aprender vocabulário novo, encontrar as palavras certas, ritmar palavras, diferenciar palavras simples, contar histórias, discriminar sons, compreender conceitos, soletrar e escrever histórias e textos

  • Atenção e concentração: Dificuldade em completar tarefas, esperar pela sua vez, relaxar (sai do lugar, efectua movimentos excessivos das mãos e pés), distracção (comete erros por descuido, não está atento)

  • Memória: Dificuldade em recordar factos, nomes, eventos ou instruções, aprender conceitos matemáticos, reter matérias novas, transpor sequências numéricas, identificar sinais aritméticos e letras

  • Comportamento social: Dificuldade em iniciar e manter amizades, julgar situações sociais, impulsividade (responde precipitadamente, antes de a pergunta terminar), tolerância a frustração, interacções, aceitar mudanças nas rotinas diárias, interpretar sinais não verbais e trabalhar em cooperação.

 

           Para além desta lista de verificação Correia & Martins (2005) também apresentam, no quadro que se segue, quatro listas por nível escolar contendo um conjunto de primeiros sinais a observar no que diz respeito às DA.


Pré-escola

Níveis iniciais

Níveis médios

Níveis superiores

Linguagem

Problemas de articulação. Aquisição lenta de vocabulário. Falta de interesse em ouvir histórias

Atraso na descodificação da leitura. Dificuldades em seguir instruções. Soletração pobre.

Compreensão pobre da leitura. Pouca participação verbal. Problemas com palavras difíceis.

Dificuldades em argumentar. Problemas na aprendizagem de línguas estrangeiras. Expressão escrita fraca. Problemas em resumir.

Memória

Problemas na aprendizagem de números, alfabeto, dias da semana, etc. Dificuldades em seguir rotinas.

Dificuldades em recordar factos. Problemas de organização. Aquisição lenta de novas aptidões. Soletração pobre.

Dificuldade em recordar conceitos matemáticos. Dificuldade na memória imediata

Problemas em estudar para os testes. Dificuldades na memória a longo prazo.

Atenção

Problemas em permanecer sentado (quieto). Actividade excessiva. Falta de persistência nas tarefas.

Impulsividade, dificuldade em planificar.

Inconstante. Difícil auto-controlo. Fraca capacidade para perceber pormenores

Problemas de memória devidos a fraca atenção. Fadiga mental.

Motricidade fina

Problemas na aquisição de comportamentos de autonomia (apertar os atacadores, etc.). Desajeitado. Relutância para desenhar ou tracejar.

Instabilidade na preensão do lápis. Problemas na componente grafomotora da escrita (forma das letras, pressão do traço, etc.)

Manipulação inadequada do lápis. Escrita ilegível, lenta ou inconstante. Relutância em escrever.

Diminuição da relevância da motricidade fina.

Outras funções

Problemas na aquisição da noção de direita ou esquerda. Possível confusão visuo-espacial. Problemas nas interacções sociais.

Desorganização temporal sequencial. Domínio pobre de conceitos matemáticos.

Estratégias de aprendizagem fracas. Desorganização do espaço ou do tempo. Rejeição por parte dos pares.

Domínio pobre de conceitos abstractos. Problemas na planificação de tarefas. Dificuldade na realização de exames, testes, etc.

 

No que respeita à equipa multidisciplinar, ela deve incluir, para além do professor do aluno e dos pais, todos os elementos julgados necessários para a satisfação das suas

necessidades educativas, tal como, por exemplo, professor de educação especial, psicólogo, terapeuta da falae psicomotricista.

Só um procedimento deste tipo (quanto mais precocemente efectuado melhor), aliado a uma intervenção adequada, poderá prevenir ou reduzir o insucesso escolar e social do aluno. Caso contrário, o aluno com  Dificuldades de Aprendizagem experimentará, com certeza, um prolongado insucesso escolar, académico e social que o levará muitas vezes ao abandono escolar, à delinquência e/ou à toxicodependência

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Cruz, V. (2009). “Dificuldades de Aprendizagem Específicas”. Lisboa: Lidel.

Correia, L.M. & Martins, A.P. (2005). Dificuldades de Aprendizagem: Que são? Como entendê-las? Rio de Janeiro.