Psicomotricidade nas DA

A Intervenção Psicomotora em crianças com DA

 

Ao se pesquisar o processo de aprendizagem escolar, nota-se que a escola existe para promover o máximo crescimento da criança e este abrange tanto a aprendizagem quanto a maturação de potencialidades herdadas. A aprendizagem refere-se a mudanças de comportamento resultantes de experiências, assim, se a intenção da aprendizagem é tornar um indivíduo mais capaz de lidar com situações semelhantes em seu ambiente, é preciso proporcionar situações que o familiarizem com o meio. (Monteiro, 2007)

A escrita e a linguagem são um modo de expressão e de comunicação. A linguagem é anterior ao grafismo e a aprendizagem da leitura e da escrita. Antes da aprendizagem da leitura, é preciso ajudar a criança a utilizar a linguagem mais rica e correcta possível. (Santos, 2001)

A escrita é um meio de comunicação e um meio de expressão pessoal. Este modo de expressão apoia-se num código gráfico a partir do qual devem ser encontrados sons portadores de sentido. Exige o desempenho de dois sistemas simbólicos: um sonoro e outro gráfico. A constituição do código gráfico e sua decifração exigem a actuação de funções psicomotoras como a percepção, coordenação motora, orientação espacial, noção de esquema corporal e estruturação temporal. (Santos, 2001)

A linguagem é a forma de expressão das compreensões e de acções adquiridas através dos processos de aprendizagem. Portanto, a aprendizagem é um processo global que envolve todo o ser corpo. (Monteiro, 2007)

As habilidades psicomotoras são essenciais ao bom desempenho no processo de alfabetização. A aprendizagem da leitura e da escrita exige habilidades tais como dominância manual já estabelecida, conhecimento numérico, movimentação dos olhos da esquerda para a direita, domínio de movimentos delicados adequados à escrita, acompanhamento das linhas de uma página com os olhos ou os dedos, preensão adequada para segurar lápis e papel e para folhear, discriminação de sons, adequação da escrita às dimensões do papel, orientação da leitura e da escrita da esquerda para a direita, manutenção da proporção de altura e largura das letras, manutenção de espaço entre as palavras e escrita orientada pelas pautas, noção de linearidade da disposição sucessiva de letras, sílabas e palavras, capacidade de decompor palavras em sílabas e letras, possibilidade de reunir letras e sílabas para formar novas palavras. (Santos, 2001)

Em relação à matemática, esta pode ser considerada uma linguagem cuja função é expressar relações de quantidade, espaço, tamanho, ordem, distância, etc. A medida em que brinca com formas, quebra-cabeças, caixas ou panelas, a criança adquire uma visão dos conceitos pré-simbólicos de tamanho, número e forma. Ela enfia conta ou coloca figuras em quadros e aprende sobre sequência e ordem; aprende frases, o que amplia suas ideias de quantidade. (Santos, 2001)

 

Segundo Fonseca (2004) a criança com DA apresenta um desenvolvimento psicomotor diferente, evidenciando tensão muscular permanente, dificuldade de relaxação voluntária, dificuldades em realizar movimentos alternados e opostos, movimentos imitativos, parasitas e desnecessários, provas de imobilidade caracterizadas por perturbações posturais e vestibulares, provas de equilíbrio estático e dinâmico e de locomoção férteis em reequilibrações abruptas, quedas unilaterais e dismetrias; problemas de noção de corpo e lateralização, fraca estruturação espácio-temporal com dificuldades de memória de curto termo (visual) e rítmica (auditiva), e na verbalização ou em simbolizar a experiência motora e praxias globais e finas que surgem com lentidão ou impulsividade.

 

Assim, e de acordo com o mesmo autor, são indicados quais os objectivos, bem como alguns exemplos de exercícios que se podem aplicar nas sessões de psicomotricidade, de acordo com cada factor:

 

 

 

 


A tonicidade é o factor base da psicomotricidade e está relacionado com a função de alerta e vigilância do nosso corpo, podendo ser de repouso ou de acção. É fundamental na preparação da musculatura para as múltiplas e variadas formas de actividade postural e práxica.

Objectivos: Relaxação activa e passiva

Exercício “Relaxamento”: A criança deita-se num colchão, de olhos fechados e o terapeuta promove o relaxamento da musculatura da criança, ao som de músicas calmas.

A equilibração é o factor dependente da integração da tonicidade, que está relacionada com a vigilância e suporte do corpo face à força da gravidade. Combina, portanto, a função tónica e a proprioceptividade na relação com o meio

Objectivos: Promover um adequado equilíbrio estático e dinâmico

Exercício “circuito”: O terapeuta, de modo a trabalhar as várias vertentes do equilíbrio poderá optar por um circuito, o qual é constituído por várias estações. Assim, no mesmo exercício o paciente poderá executar exercícios de apoio unipedal, imobilidade, equilíbrio numa prancha, etc.

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A Estruturação Espacial é a orientação e a estrutura do mundo exterior. É a consciência da relação do corpo com o meio. A Estruturação Temporal é a capacidade de avaliar tempo dentro da acção, organizar-se a partir do próprio ritmo, situar o presente em relação a um antes e a um depois, é avaliar o movimento no tempo, distinguir o rápido do lento.

Objectivos: Aquisição de noções espaciais e temporais; Estimular a memorização e estruturação rítmica.

Exercício “Localizando elementos na sala”: A criança deverá dizer de que lado está a porta, a janela, a mesa da sala de aula, etc., em relação a si. Durante a realização do exercício, não deixar a criança cruzar os braços, pois isso dificulta sua orientação espacial.

Exercício “Reproduzir ritmos com as mãos”: O professor executa um determinado ritmo, batendo as mãos sobre a mesa, durante um certo tempo. Inicialmente a criança apenas escuta, depois reproduz o ritmo executado pelo professor. Variar o ritmo entre lento, normal e rápido. Fazer o exercício inicialmente com os olhos abertos e em seguida, de olhos fechados.

O esquema corporal é tomada de consciência de cada segmento do corpo (interna e externa) o desenvolvimento do esquema corporal se dá a partir da experiência vivida pelo individuo com base na disponibilidade do conhecimento que tem sobre o próprio corpo e de sua relação com o mundo que o cerca.

Objectivos: Conhecimento do próprio corpo e do corpo de outrem; Noções espaciais do próprio corpo e do de outrem; Interiorização da imagem corporal; Coordenação, caligrafia, leitura harmoniosa, gestual, ritmo de leitura, imitação/ cópia.

Exercício “Reconhecendo partes do corpo”: O terapeuta diz os nomes das várias partes do corpo (nariz, olhos peito, barriga, braços, pernas, pés, dedos etc.). A criança mostra em si mesma a parte mencionada pelo profissional, respeitando o nome que designa. Primeiramente o trabalho deverá ser realizado de olhos abertos, e a seguir de olhos fechados.

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Percepção visual e auditiva é a capacidade de se atribuir significado às imagens que vemos e aos sons que ouvimos. Esta, é fundamental para o desenvolvimento da linguagem e esta por sua vez é essencial para o desenvolvimento intelectual

Objectivos: Identificação de ruídos e sons; Identificação e combinação de letras e números; Esquerda vs direita; Alto vs baixo; Dentro vs fora; Espaço para escrita.

Exercício “Trabalhar com os olhos”: Em pé ou sentado a criança acompanha com os olhos sem mexer a cabeça, a trajectória de um objecto que se desloca no espaço.

Exercício “Bater a bola”: A criança bate a bola no chão/ parede, apanhando-a inicialmente com as duas mãos, e depois ora com a mão direita, ora com a mão esquerda. No início a criança deverá trabalhar livremente. Numa segunda etapa o professor determinará previamente com qual das mãos a criança deverá apanhar a bola.

Exercício “Jogo de Pontaria no Chão”: Desenhar um círculo no chão ou utilizar um arco. As crianças deverão atirar a bola para dentro do círculo. Aumentar gradualmente a distância. Variar atirando a bola à frente, atrás, do lado esquerdo, do lado direito do círculo.

A lateralidade representa a consciencialização integrada e simbólica interiorizada dos dois lados do corpo, lado esquerdo e lado direito, o que pressupõe a linha média do corpo, que no decorrer estão relacionados com a orientação face aos objectos.

Objectivos: Identificação da dominância lateral; Reconhecimento da direita/esquerda; Ordem espacial, direcção gráfica, ordem, discriminação visual.

Exercício “Noção de direita e esquerda”: Conhecendo a direita e a esquerda do próprio corpo mostrar a criança qual é a sua mão direita e qual é a sua mão esquerda. Dominando este conceito, realizar o exercício em etapas:

- Fechar com força a mão direita/ esquerda;

- Levantar o braço direito/ esquerdo;

- Bater o pé esquerdo/ direito;

- Mostrar o olho direito/ esquerdo;

- Mostrar a orelha direita/ esquerda;

- Levantar a perna esquerda/ direita.

Trabalhar com os olhos abertos, e quando a criança dominar o exercício trabalhar com os olhos fechados.

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A praxia global diz respeito à possibilidade do controle e da organização da musculatura ampla para a realização de movimentos complexos, como o correr, saltar, andar, rastejar, etc. A praxia fina é a capacidade de controlar pequenos músculos para exercícios refinados, como o recorte, colagem, encaixe, escrita, etc.

Objectivos: Identificar perturbações do grafismo; estimular a manipulação/ preensão de objectos.

Exercício “Andar de cabeça erguida”: A criança anda com um objecto sobre a cabeça (pode ser um livro de capa dura). Dominada esta etapa a criança pára, levanta uma perna formando um ângulo de noventa graus e coloca-se lentamente no chão. O mesmo trabalho deverá ser feito com a outra perna.

Exercício “Quem alcança?”: O professor segura um objecto (uma bola por exemplo) a uma determinada altura e a criança deverá saltar para alcançá-lo. Inicialmente fazer o exercício em pé, depois de cócoras.

             Exercício “Bolas de Massa” O professor distribui bolas de massa (massa para modelar) de tamanhos variados. Sentada, com o cotovelo apoiado sobre a carteira, a mão para o alto, a criança aperta as bolas de massa com força, amassando-as. Orientar a criança para que trabalhe com dois dedos por vez. Trabalhar primeiro uma das mãos, depois com a outra e, finalmente, com as duas juntas. Posteriormente a massa é apresentada em forma de disco, com a qual a criança deverá fazer uma bola.